26/06/2008

Sem Fim



No mistério do sem-fim

equilibra-se um planeta.



E, no planeta, um jardim,

e, no jardim, um canteiro;

no canteiro uma violeta,

e, sobre ela, o dia inteiro,



entre o planeta e o sem-fim

a asa de uma borboleta


Cecilia Meireles

20/06/2008

Elementos de vitória



Estão cheias as livrarias de todo o mundo de livros que ensinam a vencer. Muitos deles contêm indicações interessantes, por vezes aproveitáveis. Quase todos se reportam particularmente ao êxito material, o que é explicável, pois é esse o que supremamente interessa a grande maioria dos homens.

A ciência de vencer é, contudo, facílima de expor; em aplicá-la, ou não, é que está o segredo do êxito ou a explicação da falta dele. Para vencer - material ou imaterialmente - três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar oportunidades, e criar relações. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.

Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até o fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.

Aproveitar oportunidades quer dizer não só não as perder, mas também achá-las. Criar relações tem dois sentidos - um para a vida material, outro para a vida mental. Na vida material a expressão tem o seu sentido directo. Na vida mental significa criar cultura. A história não regista um grande triunfador material isolado, nem um grande triunfador mental inculto. Da simples "vontade" vivem só os pequenos comerciantes; da simples "inspiração" vivem só os pequenos poetas. A lei é uma para todos.

Fernando Pessoa, in 'Teoria e Prática do Comércio'

14/06/2008

L' Amitié




Ça fleurit comme une herbe sauvage
N'importe où, en prison, à l'école,

Tu la prends comme on prend la rougeole
Tu la prends comme on prend un virage

C'est plus fort que les liens de famille
Et c'est moins compliqué que l'amour
Et c'est là quand t'es rond comme une bille
Et c'est là quand tu cries au secours
C'est le seul carburant qu'on connaisse
Qui augmente à mesure qu'on l'emploie
Le vieillard y retrouve sa jeunesse
Et les jeunes en ont fait une loi.

C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ça réchauffe et ça donne du courage
Et ça n'a qu'un slogan "on partage"

Au clair de l'amitié
Le ciel est plus beau
Viens boire à l'amitié
Mon ami Pierrot

L'amitié c'est un autre langage
Un regard et tu as tout compris
Et c'est comme S.O.S. dépannage
Tu peux téléphoner jour et nuit
L'amitié c'est le faux témoignage
Qui te sauve dans un tribunal
C'est le gars qui te tourne les pages
Quand t'es seul dans un lit d'hôpital
C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ça réchauffe et ça donne du courage
Et ça n'a qu'un slogan : "on partage"

Au clair de l'amitié
Le ciel est plus beau
Viens boire à l'amitié
Mon ami Pierrot

(Herbert Pagani)

13/06/2008

Em dia de efemérides lembro o divertido Vasco Santana que nos deixou há 50 anos e o F. Pessoa que nasceu há 120.
Juntá-los nesta homenagem é talvez tão difícil de perceber como a semelhança, em termos de beleza, entre a Vénus de Milo e o binómio de Newton...



Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa

12/06/2008

PARABÉNS LUIS




ELES

Ele tem estrelas nos olhos,

ela um cometa no peito;
ele tem números na testa,
ela um traço mais perfeito.


Ela inventa no papel
mundos sonhados a cor;
ele enfia-os num cordel
dentro de um computador.


Ele é o riso, ela o sorrir,
ele é sonho, ela o invento;
ela é o bulício a dormir,
ele a calma em movimento.


Ela faz tranças e laços
das palavras que aprendeu;
ele disfarça e abre os braços
como quem as esqueceu.


Eles habitam os meus dias,
luzes que partem, que ficam,
canções breves, fugidias,
poemas que não se explicam,


nó que não mais se desata,
planta da minha raíz.
Ela chama-se Renata.
O nome dele é Luis.


In "Palavras para ti que fui escrevendo"
(M.D. = Alien8:)

09/06/2008

Um café com amor...





Está na hora do café... Sai um, bem aromático.



Boa semana.

01/06/2008

A arte está em todo o lado




Nós não nos damos conta de como a arte nos trespassa de todo o lado. Anotar isso aos que vaticinam a morte da arte. Isto ao nível mais corriqueiro. Dispor os móveis numa sala é fazer arte. Ou olhar uma paisagem, pôr uma flor na lapela, ou num vaso. Escolher uma gravata, uns sapatos. Provar um fato. Pentear-se. Fazer a barba ou apará-la quando comprida. Todas as coisas de cerimónia têm que ver com a arte. E o corte das unhas.
Todo o jogo. Toda a verdade que releva da emoção. Às vezes mesmo a escolha do papel higiénico. Mas mesmo a desordem. Bergson, creio, dizia que se tudo fosse desordenado, nós acabaríamos por ler aí uma ordem. E não é o que fazemos ao inventarmos as constelações? Admitir a morte da arte é admitir a morte do homem, que impõe essa arte a tudo o que vê. Mas tenho de ir à casa de banho. A ver se invento arte mesmo aí. (Mas quando disse «casa de banho» e não «retrete», já a inventei.)

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 3'