23/11/2009


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.


Eugenio de Andrade

21/11/2009

Pretextos para fugir do real




A uma luz perigosa como água

De sonho e assalto

Subindo ao teu corpo real

Recordo-te.

E és a mesma

Ternura quase impossível

De suportar

Por isso fecho os olhos

(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da

provocação. É assim que te faço arder triunfalmente

onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)

Por isso fecho os olhos

E convido a noite para a minha cama

Convido-a a tornar-se tocante

Familiar concreta

Como um corpo decifrado de mulher

E sob a forma desejada

A noite deita-se comigo

E é a tua ausência

Nua nos meus braços


Alexandre o'Neill

07/11/2009

Burnout





"Apercebi-me, ao longo do meu exercício diário, que por vezes as pessoas são vítimas de incêndio tal como os edifícios; sujeitas ao efeito da tensão produzida pelo nosso mundo complexo, os seus recursos internos consomem-se, como por acção das chamas, não deixando senão um imenso vazio interior, ainda que o invólucro exterior pareça mais ou menos intacto."

Herbert Freudenberger