24/08/2008
Pentagrama
A humanidade sempre teve ao seu redor um mundo de forças e energias ocultas que muitas vezes não conseguia compreender nem identificar.
Assim sendo, procurou ao longo dos tempos, protecção desses perigos ou riscos que faziam parte do seu medo do desconhecido, surgindo aos poucos objectos / amuletos nas tradições de cada povo.
O pentagrama está entre os principais e mais conhecidos símbolos, pois possui diversas representações e significados, que foram evoluindo ao longo da história.
Num dos mais antigos significados do pentagrama, os Hebreus designavam-no como a Verdade, para os cinco livros do Pentateuco (os cinco livros do Velho Testamento, atribuídos a Moisés).
Na Grécia Antiga, era conhecido como Pentalpha, geométricamente composto de cinco As.
O pentagrama também é encontrado na cultura chinesa representando o ciclo da destruição, que é a base filosófica de sua medicina tradicional.
Neste caso, cada extremidade do pentagrama simboliza um elemento específico: Terra, Água, Fogo, Madeira e Metal.
Cada elemento é gerado por outro, (a Madeira é gerada pela Terra), o que dará origem a um ciclo de geração ou criação. Para que exista equilíbrio é necessário um elemento inibidor, que neste caso é o oposto (a Água inibe o Fogo).
A geometria do pentagrama e as suas associações metafísicas foram exploradas por Pitágoras e posteriormente pelos seus seguidores, que o consideravam um emblema de perfeição.
A geometria do pentagrama ficou conhecida como A Proporção Divina, que ao longo da arte pós-helénica, pôde ser observada nos projectos de alguns templos.
Era um símbolo divino para os druidas. Para os celtas, representava a deusa Morrighan (deusa ligada ao Amor e à Guerra).
Para os egípcios, era o útero da Terra, mantendo uma relação simbólica com as pirâmides.
Os primeiros cristãos tinham o pentagrama como um símbolo das cinco chagas de Cristo. Desse modo, visto como uma representação do misticismo religioso e do trabalho do Criador. Também era usado como símbolo da comemoração anual da visita dos três Reis Magos ao menino Jesus.
Ainda, em tempos medievais era usado como amuleto de proteção contra demônios.
Os Templários, uma ordem de monges formada durante as Cruzadas também usaram a simbologia do Pentagrama.
Na localização do centro da Ordem dos Templários, ao redor de Rennes du Chatres, na França, é notável observar um pentagrama natural, quase perfeito, formado pelas montanhas que medem vários quilometros ao redor do centro. Ainda é possível perceber, a profunda influência do símbolo, em algumas Igrejas Templárias em Portugal, que possuem vitrais em forma de Pentagramas.
No entanto, Os Templários foram dizimados pela mesquinhez da Igreja e pelo fanatismo religioso de Luis IX, em 1303.
Iniciou-se assim a Idade das Trevas, onde se queimava, torturava e excomungava qualquer um que se opusesse à Igreja.
Durante esse longo tempo da Inquisição, a igreja mergulhou no próprio diabolismo ao qual se opunha.
Nessa época o pentagrama simbolizou a cabeça de um bode ou do diabo, na forma de Baphomet, o mesmo que a Igreja acusou os Templários de adorar.
A perseguição da Igreja levou as religiões antigas à clandestinidade.
No fim da era das Trevas, as chamadas sociedades secretas começaram novamente a realizar os seus estudos sem o medo paranóico das punições da Igreja.
O pentagrama agora, significa o Microcosmo, símbolo do Homem de Pitágoras representado através de braços e pernas abertas, parecendo estar disposto em cinco partes em forma de cruz (O Homem Individual). A mesma representação simboliza também o Macrocosmo, o Homem Universal, um símbolo de ordem e perfeição, a Verdade Divina.
Agrippa (Henry Cornelius Von de Agrippa Nettesheim), mostra proporcionalmente a mesma figura, colocando à sua volta os cinco planetas e a Lua no ponto central (genitália) da figura humana. Outras ilustrações do mesmo período foram feitas por Leonardo da Vinci, mostrando as relações geométricas do Homem com o Universo.
Posteriormente, o pentagrama também foi associado aos quatro elementos essenciais: Terra, Água, Ar e Fogo mais o quinto, que simboliza o Espírito (A Quinta Essência dos alquimistas e agnósticos)
Na Maçonaria, o Laço Infinito (como também era conhecido o pentagrama, por ser traçado com uma mesma linha) era o emblema da virtude e do dever. O homem microcósmico era associado ao Pentalpha (a estrela de cinco pontas), sendo o símbolo entrelaçado ao trono do mestre da Loja.
Ainda hoje o pentagrama é um símbolo que indica ocultismo, protecção e perfeição. Independentemente daquilo a que tenha sido associado no passado, ele configura um dos principais e mais utilizados símbolos mágicos da cultura Universal.
21/08/2008
Uma imagem ilusória de nós próprios...
Não desenhamos uma imagem
ilusória de nós próprios, mas
inúmeras imagens, das quais
muitas são apenas esboços, e que
o espírito repele com embaraço,
mesmo quando porventura haja
colaborado, ele próprio, na sua
formação. Qualquer livro,
qualquer conversa podem
fazê-las surgir; renovadas por
cada paixão nova, mudam com
os nossos mais recentes prazeres
e os nossos últimos desgostos.
São, contudo, bastante fortes
para deixarem, em nós,
lembranças secretas que crescem
até formarem um dos elementos
mais importantes da nossa vida:
a consciência que temos de nós
mesmos tão velada, tão oposta a
toda a razão, que o próprio
esforço do espírito para a captar
a faz anular-se.
Nada de definido, nem que nos
permita definir-nos; uma espécie
de potência latente... como se
houvesse apenas faltado a
ocasião para cumprirmos no
mundo real os gestos dos nossos
sonhos, conservamos a
impressão confusa, não de os ter
realizado, mas de termos sido
capazes de os realizar. Sentimos
esta potência em nós como o
atleta conhece a sua força sem
pensar nela. Actores miseráveis
que já não querem deixar os seus
papéis gloriosos, somos, para nós
mesmos, seres nos quais dorme,
amalgamado, o cortejo ingénuo
das possibilidades das nossas
acções e dos nossos sonhos.
André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'
15/08/2008
A flor
Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis.
A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas.
Umas numa direcção , outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves;
umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta
força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o
coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz
uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas.
Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas
com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros