24/04/2009



Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão.
As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...)
Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos.
Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.

Um grande terror sucede à saturação da servidão.
Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma.
Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

22 comentários:

Alien8 disse...

Lola,

Excelente, este post!

E mais nada!

Um bom 25 de Abril e

Beijinhos.

Miguel disse...

Estamos a precisar de um novo 25 de Abril para abanar este Pais ...!


Bom Feriado da Revolução dos Cravos ...!
Bjks da M&M & Cª!

Lola disse...

Alien,

Parece-me que já temos uma geração pós Abril de 74, que cresceu em Liberdade e que ainda não sabe que se tem de lutar pela mudança.
A mudança está dentro de nós, nós somos a liberdade.

Beijos grandes

Lola disse...

Miguel,

Precisamos de nos unir para voltarmos a ter nas mãos o futuro deste Abril tantas vezes adiado.

Beijos grandes

Arábica disse...

Lola,


esmagadoras verdades!


Não voltes a partir, a andar afastada. É um pedido.

Fazes falta.

:)

Um abraço. APEGADO.

wind disse...

Excelente post!:)
Bom 25 de Abril:)
Beijos

Lola disse...

Arabica,

O meu afastamento é quase sempre falta de tempo.

Mas ando por aí a ler o que escreves e a gostar imenso.

Beijos grandes

Lola disse...

Obrigada Wind.

Beijos enormes

bettips disse...

Exactamente tudo o que me disseste lá.
E aqui.
(fiquei admirada da A.B.L mas que se há-de fazer? os artistas são controversos...)
Um beijo Enorme e comungado com um mundo melhor!

Lola disse...

Bettips,

Eu também fiquei surpreendida com o texto da ABL.

Achei interessante a abordagem pela diferença.

Beijos grandes.

Miguel Batista disse...

ola Lola!!! como ja foi dito, precisamos de um novo 25 de Abril, porem este deve der na mente das pessoas, para que se libertem de certos grilhões castradores que atrofiam a sociedade. é certo que a liberdade é uma utopia, porem podemos ir mais alem...

dark kisses

Mocho Falante disse...

Apesar de não simpatizar muito com a tia Agustina tenho de concordar que este texto tem tudo aquilo que sinto

beijocas

Teresa Durães disse...

Penso que a maioria da população mundial ainda venera um ou mais deuses e não os valores per si. Talvez nas grandes cidades da europa seja o contrário, tirando os países mais crentes

Lizzie disse...

Lola:

para mim a liberdade é um valor absoluto, abrangente de muitos outros.

Não acredito que haja liberdade (pego agora, também, se me permites, no comentário da T. Durães)nos povos que necessitam e seguem pais ou heróis. Aquela espécie de mente orientadora, seja ela qual seja, com aura de D. Sebastião salvador. E protector.

Dou-te exemplos:

O mês passado em Espanha, um membro do governo foi inaugurar, já não sei o quê, numa vila interior.
Organizaram um almoço para toda a vila num pavilhão. Chegaram e o dito estava vazio de gente. Apenas um cartaz gigante: ("por el culo"= metam-o no c.)Não apareceu o inventor/a do protesto. Mas vê a eficiência da coisa. Sem um herói.

Um ministro fez propaganda em relação às artes. Em vinte e quatro horas, os sites do ministério e milhares de blogues, ficaram atafulhados com a verdade. Foi espontãneo. O ministro saiu. Não se sabe quem começou.

Num hospital de província, noutra terra, todo o pessoal pendurou as batas à porta. Estendal simbólico.

Não há políticos que se armem em vítimas. Em trinta e tal anos de democracia, quer a vitimização quer o autoritarismo, mesmo quando camuflado, foram sancionados.

Em Portugal, numa cidade que conheço, um presidente de esquerda eleito desde as primeiras eleições (podia ser de direita ou de centro, obviamente)tem agora um parque de estacionamento, em cima de ruínas romanas, com o nome dele, uma praça com o nome dele, um pavilhão multiusos com o nome dele e desviou o centro de saúde para 6km do centro. A população não tem reformas para táxis, nem familiares que possam largar os empregos para servirem de motoristas. Os transportes públicos, deslocou-os para fora de portas.
Organiza almoços e a população veste-se de domingo e louva o Srº Presidente. Muitos vivas e mesuras. E votos, já que um opositor foi acusado de pedofilia e está há anos à espera de julgamento. Toda a gente gostava dele. De repente, toda a gente o viu na praça com meninos.

Não meço a liberdade nem por Lisboa nem pelo Porto. Meço-a pelo interior. Até no sítio da minha morada.

Espanha era uma país tão ileterato e miserável como Portugal. Teve um pai fascista e cansou-se. É um país perfeito? Claro que não. Mas altas individualidades de todos os quadrantes, ao menos, estão na cadeia por corrupção ou abuso de poder.

Hoje, logo, vou para um país onde a liberdade é antiga. Onde a liberdade colectiva tem a segurança de ser a soma das liberdades individuais. E onde os heróis que teve são considerados pessoas, com fragilidades e potências. Até a Princesa Diana. Não são intocáveis como os deuses nem míticos como o D.Sebastião.

Nada disto é simpático, mas é o que vejo, ou melhor, a maneira como vejo.

Nem costumo falar nestas coisas. Porque sou mal interpretada. Só que acho que os mitos tiram a exigência de liberdade, justiça e qualidade de vida a que toda a gente tem pleno direito.

Bom fim de semana e grande e livre abraço, Patatita.

Lizzie disse...

e desculpa o estendal, credo:))

Lola disse...

Angellus,

Penso que precisamos de parar e pensar.
Sem rótulos, sem preconceitos, todos juntos, a mudar este futuro cinzento que se apressa à nossa frente.

Dark kisses

Lola disse...

Querido Mocho,

Eu também acho que a Agustina acertou na mouche.

É tempo de juntarmos todas as diferenças e todas as ideias, sem juízos prévios.

Beijos grandes

Lola disse...

Teresa,

A maior parte das pessoas nasce e morre sem sequer pensar em Liberdade.

A vida é curta e gasta-se a tentar sobreviver.

E só faz sentido se formos felizes.


Beijos grandes

Lola disse...

Querida Lizzie,

Liberdade liberdade, quem a tem chama-lhe sua...

Mas todos os processos de lá chegar são complexos e exigem tempo.

Também penso que a maior servidão ainda é a ignorância.


Mas estou de braços abertos a todos os conceitos a todas as formas de lá chegar.


Mil besos da Patatita

Lola disse...

Lizzie,

Eu adoro os teus estendais:)))

Beijos

Unknown disse...

Escritos como este da Agustina não merecem ser comentados. Merecem apenas ser lidos e "degustados". Tanto como os Bom-bons da "velhinha " Arcádia!
R.V.

Lola disse...

Rui.

Inteiramente de acordo contigo.

Os bonbons da Arcadia, degustei-os há muito pouco tempo:)))

Beijos