Há 10 anos
12/06/2009
"Dicionário Imperfeito"
A cultura nunca poderá ser um factor estratégico de mudança. Se é estratégia, não é cultura. Faz-se apelo à cultura como estratégia de mudança, tentando resolver a condição perturbadora do homem culto, munido de culpabilidade inconsciente, ou simplesmente isento da culpabilidade pelo sofrimento. Isso não é possível. A cultura não se enquadra na totalidade política. Há um grave mal-entendido quanto a isso. A cultura não significa o conforto da neutralidade, a irónica graduação da expectativa, a ginástica do não-compomisso. Significa um enraizamento em si mesmo, que conserva no homem a faculdade de julgar. Não é contrária à acção, mas é condição necessária para que a acção seja serena e útil, e não impaciente e desordenada. Não se trata de racismo espiritual; não se trata da pretensão de existir à parte da história política do mundo. É a intenção absolutamente necessária de ser livre, face aos acontecimentos, qualquer que seja a lógica que os liga. A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade.
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'
10 comentários:
Oi Lola, passo só mesmo para dizer um "Olá" visto k a minha vidinha anda meio caótica....deve ser alergia ao pólen ou kualker cuisa vinda dos áres do mexico, visto k anda tudo louco por aki...
dark kiss
Excelente definição de cultura!
Concordo plenamente:)
Beijos
penso que se fala na cultura como meio de libertação de uma visão estreita. mas posso ser que apenas seja uma snob...
Pois, Patatita, uma velha luta paradoxal.
A cultura deveria estar acima de tudo. Não quero dizer que se demita.Não, não.
Deve é fomentar o sentido critico, dar uma visão caleidoscópica das coisas. Analisar (eventualmente) ideologias sem se prender nem servir nenhuma.
A partir do momento em que se torna refém daqui ou dali, pois, deixa de ser cultura.
Em si, não admite manipulações.
Como a ciência.
Parece óbvio, simples e consensoal, mas na vida prática é muito complicado. Sobretudo em sociedades muito partidarizadas como a nossa.
Aqui,já me aconteceu ter que dizer: isto pretende ser uma obra de arte e não parte de um comício.
A cultura está para além dos favores ou das encomendas.
Óptimas, as tuas escolhas!
Grande beijinho
Lola,
Texto interessante, sem dúvida.
Mas o que é, afinal, a cultura?
Aquela que, fazendo parte da superestrutura ideológica, se limita a transmitir a ideologia dominante, sem sequer a pôr em causa?
Aquela que contesta e subverte a ideologia dominante, pelas mais diversas formas?
Aquela que se sente "superior" e "exterior" à Política?
Aquela que reconhece e combate estruturas económicas e políticas opressoras, uma vez mais, pelas mais variadas (e não necessariamente óbvias) formas?
A que fez o outro dizer "Quando ouço falar em cultura, puxo logo da pistola?"
Dependente da Política, nunca, diria eu. Mas atenta à Política, atenta à realidade, não esquecendo nunca o estado da sociedade de que emana.
Ou então não sei se poderemos chamar-lhe cultura. Talvez antes "cultura".
E depois ainda há aquela outra cultura (neste caso Arte) que, pela sua simples existência, tem um papel importante na luta por um mundo melhor. Aquela a que se referiu há anos um conhecido crítico de cinema, em resposta a uma observação de uma combativa rapariga acerca de um filme acabado de exibir num também muito conhecido Festival de Cinema, e que ela considerou estar "ao serviço da burguesia" - creio que se referia a "O último Verão em Okinawa"! - (e nesse tempo e nesse Festival, havia debates depois dos filmes...): "Minha senhora, importa-se de me dizer ao serviço de que classe está a Vénus de Milo?". E com essa a calou.
Questão complexa... e a Agustina aborda-a bastante bem, como seria de esperar.
Beijinhos.
Lola,
concordo em absoluto com as palavras de Agustina. Nunca a cultura deverá ser misturada com a politica.
E concordo em absoluto com a Lizzie e, sorrindo, concordo com o Alien e o seu sentido de humor oportuno :))
A cultura deve estar acima de tudo, realmente, como veículo supremo para a liberdade individual de cada um de nós, porque só assim as escolhas e as estradas escolhidas, farão sentido.
Um beijo para ti.
Passei para dar uma beijoca doce...Agistina Bessa Luis confesso que não me encanta
beijocas
LOLA, miga:
Passei para te cumprimentar. Extenso o Dicionário Imperfeito. Não vou à bola com a Agustina embora reconheça que é preciosa! Prefiro outros laxantes da cultura, neste momento. Hoje é dia de praia....!!!de
a cultura...
levantar cedo e cuidar dela...
o que seríamos sem a cultura ...
abrazo serrano
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