12/06/2009

"Dicionário Imperfeito"


A cultura nunca poderá ser um factor estratégico de mudança. Se é estratégia, não é cultura. Faz-se apelo à cultura como estratégia de mudança, tentando resolver a condição perturbadora do homem culto, munido de culpabilidade inconsciente, ou simplesmente isento da culpabilidade pelo sofrimento. Isso não é possível. A cultura não se enquadra na totalidade política. Há um grave mal-entendido quanto a isso. A cultura não significa o conforto da neutralidade, a irónica graduação da expectativa, a ginástica do não-compomisso. Significa um enraizamento em si mesmo, que conserva no homem a faculdade de julgar. Não é contrária à acção, mas é condição necessária para que a acção seja serena e útil, e não impaciente e desordenada. Não se trata de racismo espiritual; não se trata da pretensão de existir à parte da história política do mundo. É a intenção absolutamente necessária de ser livre, face aos acontecimentos, qualquer que seja a lógica que os liga. A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

10 comentários:

Miguel Batista disse...

Oi Lola, passo só mesmo para dizer um "Olá" visto k a minha vidinha anda meio caótica....deve ser alergia ao pólen ou kualker cuisa vinda dos áres do mexico, visto k anda tudo louco por aki...

dark kiss

wind disse...

Excelente definição de cultura!
Concordo plenamente:)
Beijos

Teresa Durães disse...

penso que se fala na cultura como meio de libertação de uma visão estreita. mas posso ser que apenas seja uma snob...

Lizzie disse...

Pois, Patatita, uma velha luta paradoxal.

A cultura deveria estar acima de tudo. Não quero dizer que se demita.Não, não.
Deve é fomentar o sentido critico, dar uma visão caleidoscópica das coisas. Analisar (eventualmente) ideologias sem se prender nem servir nenhuma.
A partir do momento em que se torna refém daqui ou dali, pois, deixa de ser cultura.
Em si, não admite manipulações.
Como a ciência.

Parece óbvio, simples e consensoal, mas na vida prática é muito complicado. Sobretudo em sociedades muito partidarizadas como a nossa.

Aqui,já me aconteceu ter que dizer: isto pretende ser uma obra de arte e não parte de um comício.
A cultura está para além dos favores ou das encomendas.

Óptimas, as tuas escolhas!

Grande beijinho

Alien8 disse...

Lola,

Texto interessante, sem dúvida.

Mas o que é, afinal, a cultura?

Aquela que, fazendo parte da superestrutura ideológica, se limita a transmitir a ideologia dominante, sem sequer a pôr em causa?

Aquela que contesta e subverte a ideologia dominante, pelas mais diversas formas?

Aquela que se sente "superior" e "exterior" à Política?

Aquela que reconhece e combate estruturas económicas e políticas opressoras, uma vez mais, pelas mais variadas (e não necessariamente óbvias) formas?

A que fez o outro dizer "Quando ouço falar em cultura, puxo logo da pistola?"

Dependente da Política, nunca, diria eu. Mas atenta à Política, atenta à realidade, não esquecendo nunca o estado da sociedade de que emana.

Ou então não sei se poderemos chamar-lhe cultura. Talvez antes "cultura".

E depois ainda há aquela outra cultura (neste caso Arte) que, pela sua simples existência, tem um papel importante na luta por um mundo melhor. Aquela a que se referiu há anos um conhecido crítico de cinema, em resposta a uma observação de uma combativa rapariga acerca de um filme acabado de exibir num também muito conhecido Festival de Cinema, e que ela considerou estar "ao serviço da burguesia" - creio que se referia a "O último Verão em Okinawa"! - (e nesse tempo e nesse Festival, havia debates depois dos filmes...): "Minha senhora, importa-se de me dizer ao serviço de que classe está a Vénus de Milo?". E com essa a calou.

Questão complexa... e a Agustina aborda-a bastante bem, como seria de esperar.

Beijinhos.

Arábica disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arábica disse...

Lola,

concordo em absoluto com as palavras de Agustina. Nunca a cultura deverá ser misturada com a politica.

E concordo em absoluto com a Lizzie e, sorrindo, concordo com o Alien e o seu sentido de humor oportuno :))

A cultura deve estar acima de tudo, realmente, como veículo supremo para a liberdade individual de cada um de nós, porque só assim as escolhas e as estradas escolhidas, farão sentido.

Um beijo para ti.

Mocho Falante disse...

Passei para dar uma beijoca doce...Agistina Bessa Luis confesso que não me encanta

beijocas

mia disse...

LOLA, miga:
Passei para te cumprimentar. Extenso o Dicionário Imperfeito. Não vou à bola com a Agustina embora reconheça que é preciosa! Prefiro outros laxantes da cultura, neste momento. Hoje é dia de praia....!!!de

mixtu disse...

a cultura...
levantar cedo e cuidar dela...
o que seríamos sem a cultura ...

abrazo serrano