Não desenhamos uma imagem ilusória de nós próprios, mas inúmeras imagens, das quais muitas são apenas esboços, e que o espírito repele com embaraço, mesmo quando porventura haja colaborado, ele próprio, na sua formação. Qualquer livro, qualquer conversa podem fazê-las surgir; renovadas por cada paixão nova, mudam com os nossos mais recentes prazeres e os nossos últimos desgostos.
São, contudo, bastante fortes para deixarem, em nós, lembranças secretas que crescem até formarem um dos elementos mais importantes da nossa vida: a consciência que temos de nós mesmos, tão velada, tão oposta a toda a razão, que o próprio esforço do espírito para a captar a faz anular-se.
São, contudo, bastante fortes para deixarem, em nós, lembranças secretas que crescem até formarem um dos elementos mais importantes da nossa vida: a consciência que temos de nós mesmos, tão velada, tão oposta a toda a razão, que o próprio esforço do espírito para a captar a faz anular-se.
Nada de definido, nem que nos permita definir-nos;
uma espécie de potência latente...
como se houvesse apenas faltado a ocasião para cumprirmos no mundo real os gestos dos nossos sonhos, conservamos a impressão confusa, não de os ter realizado, mas de termos sido capazes de os realizar. Sentimos esta potência em nós como o atleta conhece a sua força sem pensar nela.
Actores miseráveis que já não querem deixar os seus papéis gloriosos, somos, para nós mesmos, seres nos quais dorme, amalgamado, o cortejo ingénuo das possibilidades das nossas acções e dos nossos sonhos.
uma espécie de potência latente...
como se houvesse apenas faltado a ocasião para cumprirmos no mundo real os gestos dos nossos sonhos, conservamos a impressão confusa, não de os ter realizado, mas de termos sido capazes de os realizar. Sentimos esta potência em nós como o atleta conhece a sua força sem pensar nela.
Actores miseráveis que já não querem deixar os seus papéis gloriosos, somos, para nós mesmos, seres nos quais dorme, amalgamado, o cortejo ingénuo das possibilidades das nossas acções e dos nossos sonhos.
André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'
3 comentários:
Às vezes, falando com pessoas que não conheço, ou conheço de mera passagem, tenho impressão que vejo transparecer, num olhar, numa palavra, num gesto, os sonhos que sonharam e que ficaram, e ficam, guardados nos seus segredos.
E acho que esses segredos as compôem: seriam outras se não os tivessem, mesmo quando se nota que têm saudades de si, do que para si imaginaram.
E tudo isso, o que se fez, o que se foi, o que se sonhou e o que se é, é uma poderosa marca de individualidade própria.
Felizmente, só a razão se pode, teoricamente, programar.Por muitos meios. Os sonhos mais íntimos e secretos, fora do mundo obrigatório, são-nos sempre superiores e... livres. Como um sono.
Acho eu, não sei.
Bjs
(não consigo ver os slides. É pena)
Gostei dos slides.
E também gostei de ler o texto.
Beijos
O texto até é bom, mas, não sei porquê, prefiro as imagens de ti mesma... :)
Um beijo.
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