21/05/2010

  Não o pássaro: era o céu que voava
  
  O ombro da terra amparava o dia
  
  A luz tombava ferida
  
  pingando como um pulso suicida 
  
   em minhas ocultas asas



Mia Couto 










09/05/2010




Não desenhamos uma imagem ilusória de nós próprios, mas inúmeras imagens, das quais muitas são apenas esboços, e que o espírito repele com embaraço, mesmo quando porventura haja colaborado, ele próprio, na sua formação. Qualquer livro, qualquer conversa podem fazê-las surgir; renovadas por cada paixão nova, mudam com os nossos mais recentes prazeres e os nossos últimos desgostos. 
São, contudo, bastante fortes para deixarem, em nós, lembranças secretas que crescem até formarem um dos elementos mais importantes da nossa vida: a consciência que temos de nós mesmos, tão velada, tão oposta a toda a razão, que o próprio esforço do espírito para a captar a faz anular-se.

Nada de definido, nem que nos permita definir-nos; 
uma espécie de potência latente... 
como se houvesse apenas faltado a ocasião para cumprirmos no mundo real os gestos dos nossos sonhos, conservamos a impressão confusa, não de os ter realizado, mas de termos sido capazes de os realizar. Sentimos esta potência em nós como o atleta conhece a sua força sem pensar nela. 
Actores miseráveis que já não querem deixar os seus papéis gloriosos, somos, para nós mesmos, seres nos quais dorme, amalgamado, o cortejo ingénuo das possibilidades das nossas acções e dos nossos sonhos.

André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'

06/05/2010

Pausa para um café...

02/05/2010

O que me apetece hoje...