11/10/2008

Vindimas

"Não falta quem garanta ser o ritual das vindimas um momento mágico, feito de mãos que recolhem cachos de bagos maduros como se pegassem em pássaros feridos; de cestos de vime levados às costas como iniciados que assim fossem para ser presentes numa cerimónia pagã; de pés que, abençoados por invisíveis deuses, se empenhassem na tarefa de calcar o mosto para acordar a vida secreta que as uvas contêm; de uma poderosa alquimia que transforma a seiva dos frutos tenros em espirituoso néctar..."

28 comentários:

Vanda disse...

Lola,

logo hoje que estou a antibiotico é que nos ofereces os néctares de Baco!! :))

Há muitos anos, mais de trinta, durante uns dias andei nas vindimas. Terras de amigos que abrindo o circulo, receberam todos os que aceitaram o desafio. Madrugava-se com mesa farta, que o trabalho seria árduo. Minha mestra, uma menina sorridente de poucos anos, lá me ia ensinando a arte do corte e do pousio na cesta de vime. Já às 10 da manhã, o garrafão de tinto, de colheitas anteriores, passeava de boca em boca. O pão com chouriço e queijo, também.
E assim foi acontecendo ao longo do dia. Quando ao entardecer voltamos a casa, as galinhas, douradas, engalanavam a mesa, o arroz tostado no forno de lenha, respirava vapores de deliciosos temperos...


E o néctar, claro, lá tomou conta do resto..

:)

Beijo e bom fim de semana!

wind disse...

Excelente post!:)
Bonitos slide e música e em poucas palavras a descrição de como se chega ao néctar:)
Beijos

Lola disse...

Vanda,

Mas a antiga fórmula para curar a gripe era: avinha-te, abifa-te e abafa-te:))))

As vindimas são uma referência que se está a perder, como as desfolhadas.

Eu só estive uma vez numa desfolhada ( e mesmo assim era uma espécie de outsider, não fazia parte do grupo)e poucas vezes em vindimas, mas bebia o " vinho doce" que nos traziam de casa da minha Avó.

Beijos grandes e espero que melhores rápidamente.

Lola disse...

Wind,
Obrigada.

O néctar é o mais importante:)))

Beijinhos

Miguel Batista disse...

por aqui,na quita dos meus pais a vindima ja se fez ha algum tempo. este ano nao participei, ja andava em lides universitarias. confesso que me bate um pequeno saudosismo, tao tipico do povo portugues, de cada vez que me lembro das vindimas de quando era miudo. nessa altura ia-se vindimar a quinta da minha avó, e como a vanda falou,andava o garrafao do vinho de boca em boca, e o belo do pao e do enchido caseiro,passava de mao em mao num acto de partilha. nao havia tratores e as uvas eram carragadas aos ombros, em certos de vime, mas tambem ja em alguns de plastico. hoje, disso pouco ou nada resta. a festa em redor da vindima ja é rara ou inexistente, sendo na sua maioria um possivel negocio visto por alguns. até o belo do enchido ja nao é igual, com tanta "paneleirice" exigida pela ASAE, felizmente para mim ainda como alguns dos belos produtos caseiros confeccionados pela minha mae, inclusive os enchidos.

vejo que arranjastes a versao dos guns n' roses, e k tal?

aqueles dois que postei sao aguarelas, eu nao gosto de trabalhar a aguarela muito aguada, prefiro trabalha-la mais pastosa, daí os tons mais vivos!!!

dark kisses

Alien8 disse...

Lola,

Eu também gosto das uvas propriamente ditas, sem menosprezo para os vinhitos :)

Mais um bom slide da artista.

E mais um beijinho.

mjf disse...

Olá!
Uma bela refeição com um bom vinho!!!
Então prepara-te...para amanhã!!!
Almoço no refeitorio???? á mesma hora ;=((

Beijocas
Dorme bem

José Faria disse...

Olá querida Lola! DESPERTEI por momentos!
Ora venha daí mais um tinto, pode ser do Douro. Quero dizer, tem que ser do Douro.
Peço desculpa por andar tão ausente duma tecladas aqui no teu cantino.
Eu bem cá venho, leio e avanço logo para outro e outro e mais outro cantinho.
Claro que poderia no mínimo dizer(escrever Olá!) mas fico sempre a pensar: Depois venho cá com mais tempo comentar o texto da amiga Lola.
Afinal eu é que sou nabo por não aproveitar estar mais tempo na tua companhia. Ando sempre a #saltar" e sozinho (!?). Cheguei agora da Desfolhada do telheiro, onde fúi depois do tal Teatro Infantil sobre o "Príncipe Nabo, no Flor de Infesta.
E depois ainda ando a cumprimentar as amizade on-line do Hi5, o teatro e a poesia.
Daaaaa! Como sou nabo para não aproveitar estar mais tempo com a Lola.
Bom Domingo "Lolita" e desculpa tá!?
Vou ver se deixo de ser nabo.
Beijos

Miguel disse...

Deve ser um momento unico ...!

Um BOM FDS!
Bjks da M&M & Cª!

Graça Brites disse...

Lola,

Deve ser mesmo um ritual espiritual. Uma cerimónia na qual, dia, ainda gostava de participar.

Aromática e outonal lembrança, a tua.

Beijos e uma boa semana.

Alien David Sousa disse...

Concordo LOla, é um ritual. E se pensarmos bem, é dos poucos aonde a presença humana ainda não foi excluida, substituida por máquinas.
Como não bebo, não sei apreciar o resultado final. Eu sou mais coca-colas ;)

Beijinhos

Teresa Durães disse...

as vindimas, no que é hoje portugal e na época pagã, sempre foram comemoradas como sendo o fim das colheitas.

Lizzie disse...

Olá Lola de mi corazón:

pois nunca estive em vindimas, mas consigo imaginá-las como uma festa gregária de outono em que o corpo faz parte de um ritual alquímico com religiosidade, seja ela pagã ou de regras instituídas.

Em relação ao vinho lembro-me sempre de uma velha senhora californiana que conheci,entre outras coisas produtora dele, e do copo que me ofereceu num fim de tarde, porque...eu vinha de Portugal.
Lembro-me da forma ritual como, erguendo o copo, via a paisagem através do bojo da cor.
Parecia uma sacerdotiza cheia de segredos a olhar para o centro do mistério.
A partir daí, deste pequeno pormenor, passei a olhar o vinho de outra maneira. Talvez com mais respeito.

Enfim, saboreamos as coisas consoante as experiências que temos.

Belo post a apetecer conversa numa lareira outonal.


Beijos

Lola disse...

Angelus,

O ritual das vindimas, o vinho doce, a alegria e as cantigas ritmadas dos que pisavam as uvas...

São quase imagens de filmes antigos.

As tuas aguarelas são de facto boas.

Os Guns'N'Roses eu sabia que tinha, mas já não me lembrava onde. Gosto muito.

Dark kisses

Lola disse...

Alien,

Umas uvas, meia de conversa...
Vinhos para quê:))))

Beijos

Lola disse...

Loira Linda,

O almoço até que não foi mau de todo:)))

Sem vinho, claro.

Mas a guerra foi demais.

Beijos grandes

Isabel Filipe disse...

algo que eu um dia ainda gostaria de participar ...


deve ser encantador.


bjs

Lola disse...

Zé,

Andamos todos atarefados com a vida real.
Há dias em que no fim do trabalho ( de que gosto muito) já não tenho energia para mais nada.

Mas vindimar o vinho novo, como se fazia antigamente, era divertido.

Lembro-me das canções muitas vezes brejeiras, que se cantavam enquanto pisavam as uvas:))))

Lembras-te do chamado vinho "americano"?


Beijos grandes

Lola disse...

Miguel,

Em casa da minha avó fazia-se o vinho, e o pão também era feito em casa.

Eram quase autosuficientes em termos de alimentação.

E havia festas nas desfolhadas, nas vindimas, na matança do porco...


Beijos grandes

Lola disse...

Graça,

É uma espécie de Alquimia ao contrário, transforma o ouro das uvas em vinho doce e inebriante, que nos atordoa os sentidos.

Beijos grandes

Lola disse...

Alien DS,

Já é cada vez menos um ritual comunitário das aldeias.

Agora as uvas são selecionadas e vendidas para cooperativas/empresas onde o vinho é produzido por máquinas, por questões de higiene e para manter a "marca" sem alterações.

Concordo com o aspecto da higiene.


Beijos grandes

Lola disse...

Teresa,

Eram o culminar das festividades das colheitas.
A Igreja católica veio a retomar esse ritual com as Festas de S. Miguel, em Setembro.

No Norte o termo "S. Miguel" ainda é usado como sinónimo de abundância, a riqueza produzida durante o ano...

Beijos grandes

Lola disse...

Lizzie,

As vindimas são tudo o que descreves, apesar de nunca lá teres estado.

São feitas ainda com sol, para que as uvas não percam o açúcar necessário para que o vinho seja bom.

E depois são todas as festas, com comida à farta e o vinho doce a sair do lagar e a desatar as línguas e as canções.

Assisti a algumas, mas ficava na varanda com a minha avó.

Às vezes, durante o dia, deixavam-me ir apanhar bagos com as outras crianças...

Montes de beijos

Lola disse...

Isabel,

Então apressa-te, talvez ainda encontres em alguma casa que produza vinho para consumo próprio.

Actualmente o vinho é produzido em condições diferentes.

Perdeu-se a magia, o sol e a alegria das vindimas.

Beijos grandes

José Faria disse...

Ó amiga Lola, do vinho Americano que era em muitos casos o vinho dos pobres e de todos.
Quando era miúdo o que mais havia de trepadeiras enroscadas nos choupos, amieiros e salgueiros na beira dos rios, como do rio Leça, onde aprendi a nadar aos sete anitos... eram videiras de vinho americano.
Em qualquer parte se dava e eram as grandes e agradáveis sombrinhas de pátios, caminhos, hortas e quintais. Até que apareceu uma estúpida Lei que não só proibiu a sua produção, como mandou arrasar toda a que já existia.
Era o consolo e as diarreias da ganapada que no meu tempo de criança, corriam para no banho e na braçada, corriam para abraçar o rio Leça, em Águas Santas, na Maia.
Valores que se vão perdendo, ou mais correctamente: que se vão destruindo.
Com amizade!

Lola disse...

Zé,

Obrigada pela memória.

Fui encontrar um vinho muito semelhantes nos Açores, na ilha Terceira, numa terra chamada Biscoitos:)))

Beijos

Vanda disse...

Lola,

embora as vindimas já tenham terminado :) ainda cá voltei nesta manhã sossegada...que estou a aproveitar como se também ela fosse um qualquer néctar mágico e único :))

Lembras-me bem a receita dos tres "A"s :) eu costumo brincar dizendo que tenho de tomar a BCG: uma dose de bagaço, outra de conhaque e ainda outra de ginga ;))

Se eu com um shot de qualquer coisa fico logo com os pés no ar, imagina-me com uma "BCG" destas :-D

Mas as vindimas são mesmo algo de mágico e, embora ao longo do tempo, as tradições relativas às vindimas, tenham vindo a perder muito do seu misticismo e beleza, julgo que enquanto existirem memórias como as nossas, ainda vamos a tempo de "respigar" os bagos que vão sobrando, meios esquecidos, meio econdidos :)

beijos, Lola, vindimemos :)

Lola disse...

Vanda,

Lembrei-me das vindimas em casa da minha avó.

Era também tempo de outras colheitas.

E antes era o grande aniversário da Avó a 31 de Agosto.

Era uma grande reunião familiar com verdadeiros manjares dos deuses:)))

Era também o fim das férias da praia e a preparação do regresso às aulas.

Momentos inesquecíveis.

Beijos grandes