Há 10 anos
17/12/2009
05/12/2009
23/11/2009
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Eugenio de Andrade
21/11/2009
Pretextos para fugir do real
A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te.
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
Alexandre o'Neill
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te.
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
Alexandre o'Neill
07/11/2009
Burnout
"Apercebi-me, ao longo do meu exercício diário, que por vezes as pessoas são vítimas de incêndio tal como os edifícios; sujeitas ao efeito da tensão produzida pelo nosso mundo complexo, os seus recursos internos consomem-se, como por acção das chamas, não deixando senão um imenso vazio interior, ainda que o invólucro exterior pareça mais ou menos intacto."
Herbert Freudenberger
31/10/2009
Dia das Bruxas, Dia de Todos os Santos, Pão por Deus...
Há quem diga que a tradição já não é o que era, mas em Portugal há
tradições que ainda perduram.
Uma delas é o "Pão por Deus", que tem passado de geração em geração.
Na manhã do dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, as crianças juntam-se em pequenos grupos e vão pedindo de porta em porta: "Pão por Deus"
Embora a cantilena varie de região para região, o objectivo é sempre o mesmo: encher o saco de guloseimas.
Com o passar da manhã os sacos vão-se enchendo de rebuçados, frutos secos, bolos e outras gulodices.
Há mesmo quem ainda mantenha a tradição de fazer broas ou o tradicional Bolinho para dar, nesse dia, às crianças.
Originalmente as crianças traziam sacos de pano, muitas vezes bordados.
Esta tradição está relacionada com uma das muitas tarefas agrícolas: a desfolhada, que ocorria algumas semanas antes do Dia de Todos os Santos.
Nessa altura já havia farinha acabada de moer e a oferta do tradicional Bolinho ou das broas às crianças era uma forma de agradecer a toda a comunidade a ajuda na colheita e preparação do milho.
E então cantava-se:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À porta da bela cruz, truz, truz…
A senhora está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir à porta
P’ra nos dar um tostãozinho ou um bolinho.
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À porta da bela cruz, truz, truz…
A senhora está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir à porta
P’ra nos dar um tostãozinho ou um bolinho.
Se a porta se abria e recebessem a oferta:
Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa.
Aqui mora algum santinho.
Aqui mora algum espantalho.
Aqui mora algum papão.
25/10/2009
Amigos...
A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam.
Ainda que devendo muito aos que muito me louvam, eu não quero ser-lhes obrigada pela gratidão.
Mas sim grata porque estou com eles, devido a circunstâncias que a todos nós agradam e são um laço mais entre nós, sem constituírem um dever.
Eu pretendo dizer da amizade o que Diógenes dizia do dinheiro: que ele o reavia dos seus amigos, e não que o pedia.
Pois aquilo que os outros têm pelo sentimento comum não se pede, é património comum.
Neste caso, a amizade.
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'
19/10/2009
Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidas. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentadas ao calor do sangue e das aquisições da experiência, temperadas de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.
Agustina Bessa-Luís, in 'Antes do Degelo'
15/10/2009
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossivel,
Há sem duvida quem não queira nada.
Tres tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possivel,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Fernando Pessoa
10/10/2009
Estou zen...
Recomeça… se puderes,
sem angústia e sem pressa
e os passos que deres,
nesse caminho duro do futuro,
dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga
sem angústia e sem pressa
e os passos que deres,
nesse caminho duro do futuro,
dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga
06/10/2009
03/10/2009
30/09/2009
Se eu pudesse dizer-te: - Senta aqui
nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,
ó amável bichinho, o pêlo fino;
depois, a contra-pêlo, provocar-te!
Se eu pudesse juntar no mesmo fio
(infinito colar!) cada arrepio
que aos viageiros comprazidos dedos
fizesse descobrir novos enredos!
Se eu pudesse fechar-te nesta mão,
tecedeira fiel de tantas linhas,
de tanto enredo imaginário, vão,
e incitar alguém: - Vê se adivinhas...
Então um fértil jogo de amor seria.
Não este descerrar a mão vazia !
(...)
Alexandre O'Neil
28/09/2009
Em memória de Jorge Macedo com um beijo à Fernanda

Aquela negra
De enxada em punho,
lutando pela minha fome;
aquela negra que jorra suores na minha sede
e que vai de lenha na cabeça porque o frio
me consome;
aquela negra
pobre, sem nada,
que vende os panos para me vestir;
que chora nas ruas o meu nome;
aquela negra é minha mãe.
(Palavra de poeta - Antologia)
Jorge Macedo 1941-200926/09/2009
Rosas ...
Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
(Eugénio de Andrae)
29/08/2009
02/08/2009
12/06/2009
"Dicionário Imperfeito"
A cultura nunca poderá ser um factor estratégico de mudança. Se é estratégia, não é cultura. Faz-se apelo à cultura como estratégia de mudança, tentando resolver a condição perturbadora do homem culto, munido de culpabilidade inconsciente, ou simplesmente isento da culpabilidade pelo sofrimento. Isso não é possível. A cultura não se enquadra na totalidade política. Há um grave mal-entendido quanto a isso. A cultura não significa o conforto da neutralidade, a irónica graduação da expectativa, a ginástica do não-compomisso. Significa um enraizamento em si mesmo, que conserva no homem a faculdade de julgar. Não é contrária à acção, mas é condição necessária para que a acção seja serena e útil, e não impaciente e desordenada. Não se trata de racismo espiritual; não se trata da pretensão de existir à parte da história política do mundo. É a intenção absolutamente necessária de ser livre, face aos acontecimentos, qualquer que seja a lógica que os liga. A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade.
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'
04/05/2009
01/05/2009
24/04/2009
Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão.
As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...)
Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos.
Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.
Um grande terror sucede à saturação da servidão.
Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma.
Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome.
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'
17/04/2009
ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI
Acabemos com este maelstrom de chá morno!
Mandem descascar batatas simbólicas a quem disser que não há tempo para a criação!
Transformem em bonecos de palha todos os pessimistas e desiludidos!
Despejem caixotes de lixo à porta dos que sofrem da impotência de criar!
Rejeitem o sentimento de insuficiência da nossa época!
Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia!
Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo!
Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo!
Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual!
Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação!
Façam com que educar não signifique burocratizar!
Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais!
Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!
Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida!
Dispensem todas as teorias passadistas!
Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos!
Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"!
Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos!
Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo!
Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista!
Criem a vossa experiência e sereis os maiores!
Morram todos os derrotismos! Morram! PIM!
Almada Negreiros
11/04/2009

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill